Muito do que somos hoje, de nossos medos e coragem, de nossa força e de nossos traumas, se construíram na nossa infância, independente de nossa influência sobre a mesma.
Eu tive uma infância plena, feliz com família presente, avós, primos... mas como todo mundo carrego algumas situações marcantes que quando criança não sabemos lidar...
Um exemplo, quando tinha seis anos e já ia para escola sozinha, estava com rímel nos olhos e tinha chovido. Enquanto aguardava o sinal para entrar na aula, uma mulher que acompanhava seu filho, com olhos cheios de ódio dissipou palavras ásperas para mim, dizendo "que coisa mais feia criança de maquiagem, tu tá parecendo uma bruxa". Sentada ali sozinha, sozinha tive que lidar com a crueldade de um adulto sem noção. Hoje eu percebo quão amargurada estava aquela senhora para ter a necessidade de lançar tanto mal sobre uma criança sozinha.
Nunca contei isso, mas com minhas filhas incentivo a reagirem caso alguém as ofenda. Não à regirem ofensivamente, mas sim reagir não se importando, aumentando sua própria confiança e o mais importante sentirem-se confiantes em buscar um aconchego depois de um dia difícil.
No desafio de hoje quero que possamos estender a mão para nossa criança que por diversas vezes precisou de colo, de um beijo, de uma defesa, que por diversas vezes se sentiu sozinha e esquecida. Não se sentiu protegida, ou se sentiu culpada por algo que não era sua culpa.
No dia de hoje, acolha tua criança interior, olhe para ti nesses momentos de dor, e dê o acolhimento necessário que não foi dado na época. Ajude tua criança a reagir, a se sentir amada e depois prepare algo gostoso pra vocês partilharem juntas.
Converse, veja, sinta você pequena, criança, indefesa ou mesmo adolescente. Perceba-se na fases que mais sentiu solidão e se acolha... Dê -se esse carinho e proteção que esperou de terceiros...
E seja forte, pois isso vais te fortalecer.
Não é fácil mexer em lembranças, mas é necessário!
Deixo aqui um pequeno trecho que retrata esta experiência forte que precisamos fazer no dia de hoje. Não sei o nome da série, mas achei fantástica e emocionante esta cena:
Finalizo com esta linda obra poética de Fernando Pessoa, que encontrei aqui
I - A criança que fui chora na estrada.
I
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
II
Dia a dia mudamos para quem
Amanhã não veremos. Hora a hora
Nosso diverso e sucessivo alguém
Desce uma vasta escadaria agora.
E uma multidão que desce, sem
Que um saiba de outros. Vejo-os meus e fora.
Ah, que horrorosa semelhança têm!
São um múltiplo mesmo que se ignora.
Olho-os. Nenhum sou eu, a todos sendo.
E a multidão engrossa, alheia a ver-me, Sem que eu perceba de onde vai crescendo.
Sinto-os a todos dentro em mim mover-me,
E, inúmero, prolixo, vou descendo
Até passar por todos e perder-me.
III
Meu Deus! Meu Deus! Quem sou, que desconheço
O que sinto que sou? Quem quero ser
Mora, distante, onde meu ser esqueço,
Parte, remoto, para me não ter.
DESAFIO EXTRA: Hoje na minha tabela é dia de limpar com mais carinho a cozinha. Como está sua geladeira? Que tal fazer uma limpa, em alimentos congelados há muito tempo, panelas e potes com alimentos esquecidos. Faça uma limpeza. Organize e destralhe a geladeira.
Essas doces imagens que estou usando aqui no blog são de autoria da Beatriz França, criadora desta personagem "Bia Pof".
A página dela é esta aqui: Bia Pof
O desafio extra eu realizei ontem 12.06.18, mas o encontro com minha criança ainda não consegui o momento propicio para fazer. Sei que vai ser profundo, por isso preciso de um tempo propício, sem ninguém em casa para que de fato esse encontro aconteça. Virei contar aqui depois como foi.
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